sexta-feira, 8 de abril de 2011

Morte

-> Tomarei o embalo de Krishnamurti em Commentaries On Living 1 & 2, adaptado às minhas ideias e experiências.


Este é um dos assuntos mais complexos e difíceis para a humanidade: O "fim!"

Para muitas culturas esse momento é algo a ser celebrado, pois trata-se de uma transição deste para um lugar melhor. Inúmeras pessoas, mesmo em nossa sociedade não muito acostumada à esse tipo de visão, acreditam em um lugar tranquilo e sereno após este período, muitos sem muita convicção, mas assim crêem por medo.

A morte é inevitável, mas temos temor à ela. Como não podemos vivenciá-la, temos medo dela. Agora, como poderemos ter medo daquilo que não conhecemos? Na verdade não temos medo do desconhecido, mas da perda do conhecido, porque isso pode causar dor ou levar embora sua ideia sobre ela. É o conhecido que causa medo, não o desconhecido, afinal de contas, como o desconhecido pode causar medo? Temos medo de nossas ideias na relação dela com a morte, e como nos prendemos a uma experiência, adquirimos o temor do que o futuro possa ser. Mas o que "pode ser", é uma oposição daquilo que "é", ao presente, e é nele que devemos trabalhar.

Como é árdua a tarefa de lidar com essa fase da vida! De repente nos perdemos e ficamos distantes daquilo que estava tão próximo! Agora estamos conscientes de outras coisas, que se tornaram muito mais importantes. Agora percebemos que estamos sozinhos, sem um companheiro, sem o sorriso e a palavra inteligente e familiar; estamos atentos a nós mesmos agora e não somente ao outro. O outro era tudo e nós, nada; agora o outro não está presente e nós somos aquilo que é. O outro é um sonho e a realidade é o que somos; um sonho de nossa própria criação, vestido com a beleza de nossa própria alegria que desaparece gradualmente. O desaparecimento é a morte e a vida é o que somos, e a vida é sempre mais forte que a morte. Mas como amamos a morte e não a vida! Quando o outro é, nós não somos; quando o outro é, somos livres, desinibidos; o outro é a flor, o vizinho, o amor, o perfume, a lembrança. Todos queremos o outro, somos identificados pelo outro, o outro é importante e não nós mesmos. O outro é o nosso sonho; e ao acordar, nós somos o que é. O que é é imortal, mas queremos dar um fim ao real. Nossa vontade é de fugir de nós mesmos, de nossa própria compreensão, de nossa própria infelicidade, e infelizmente muitos nos ajudam a fugir, mas poucos ajudam a nos compreender. A dor não pode ser ignorada, ela deve ser compreendida a cada momento. Quando estamos felizes o tempo não existe, ontem e amanhã estão ausentes; a pessoa não pensa no passado e no futuro. Mas a infelicidade gera esperança e desespero. O problema na maioria das vezes não é a morte em si, mas a infelicidade gerada por ela. A infelicidade é o problema, confundida pela introdução de outro problema, que é o de como sair dela. Buscamos a saída, mas se compreendermos todo o processo, estaremos diante do problema. Entretanto, cometemos o equívoco de no final nos prendemos ao nosso próprio desespero.

Quatorze meses de luta contra um câncer de mama, e minha mãe veio a falecer quando eu tinha 14 anos. Cinco anos depois percebi que o problema não era a morte em si que, sinceramente, rapidamente superei, mas foi a falta de carinho materno, a compreensão quase divina, a paciência constante e os cuidados de mãe que me fizeram falta. Nesse processo, descobri o próprio abandono e a herança negativa de todos em minha volta que não souberam lidar com o fato.

A morte não é o verdadeiro problema, mas sim as nossas mentes lotadas de preconceitos e ideias sobre ela, que nos impedem de ver a verdade. Sempre a observamos com o filtro intermediário de nossas prévias conclusões, de nossas antigas e falhas abordagens, de outras pessoas, de crenças e ideologias; nunca nos permitimos olhar por nós mesmos a renovação da morte em nosso próprio espírito; jamais olhamos no espelho de nosso auto-relacionamento e encarar face-a-face o momento em si. Fugas sempre existirão, mas os problemas não vão embora através disso; pelo contrário! Se não existir o entendimento, o problema persistirá, como se fosse uma sombra. Humildade e tranquilidade são fundamentais, mas para isso devemos pensar por nós mesmos, não pela mente de quem está ou mesmo de quem se foi.

O contrário da vida não é a morte, a morte é apenas uma fase da vida! Então, amemos a vida; saibamos lidar com a morte e aprendamos com ela, mas não se permita que a morte tome você, o que, infelizmente, acontece com a maioria da humanidade em todos os níveis.

O que não provoca a minha morte faz com que eu fique mais forte - Friederich Nietzsche
A morte do homem começa no instante em que ele desiste de aprender - Albino Teixeira

Um comentário:

  1. ...O outro é um sonho e a realidade é o que somos;...
    ADOREI O TEXTO TODO...MAS ESSA FRASE DIZ TUDO.
    MUITO BOM! INFELIZMENTE, NAO É PERDA QUE NOS FAZ SOFRER, MAS O O QUE A PERDA NOS PROPORCIONAVA. POIS ESSA PERDA VISUAL, FICA SÓ NO VISUAL, NADA MAIS SE PERDE DELA... VC PODE SENTIR A PRESENÇA DAQUELE QUE SE FOI, VC SABE QUE SUA MAE SEMPRE ESTÁ COM VC, NAO É ASSIM? FALTA O QUE ELA FOI CAPAZ DE FAZER VC SENTIR E ISSO SIM...SOMENTE ISSO PODE TER CHEGADAO AO FIM.
    ADORO SEUS TEXTOS MENINO INTELIGENTE,R S...
    BEIJAO NA ALMA E QUE ISSO TUDO QUE LHE FALTOU, OU QUE POSSA LHE FALTAR AINDA, NAO FAÇA DE VC UMA PESSOA FECHADA OU TRISTE, APENAS, UM BUSCADOR... POIS SEMPRE HAVERÁ OUTROS MOMENTOS QUE NAO GOSTARÍAMOS DE PERDER NUNCA.
    BEIJO VIU!!!

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